A Salicornia ramosissima é uma planta halófita, pertencente à família Chenopodiacea, que se desenvolve em zonas marinhas vulgarmente encontrada em ambientes sapais, os quais são caracterizados por uma elevada concentração salina. A produção industrial da salicórnia tem aumentado a nível nacional, muito devido às suas diversas atividades biológicas, nomeadamente atividade antioxidante, antibacteriana e anticancerígena. Recentemente, as características organoléticas e sensoriais desta planta evidenciaram a sua aplicação como alternativa ao sal marinho. A nível industrial a produção de salicórnia gera elevadas quantidades de um resíduo de colheita, vulgarmente descartado. Com efeito, o presente trabalho teve como objetivo principal caraterizar química e biologicamente o resíduo da produção industrial de S. ramosissima. Numa etapa inicial recorreu-se à Metodologia de Superfície de Resposta (MSR) para otimizar as condições de extração dos compostos bioativos deste subproduto, com recurso à extração convencional e utilizando água como solvente. As condições ótimas de extração, que maximizaram o teor de polifenóis e as atividades antioxidante e antiradical, ocorreram à temperatura de 80º C durante um período de 10 minutos. A atividade antioxidante foi avaliada pelo ensaio FRAP, enquanto a atividade antiradical teve por base os ensaios de captação do radical DPPH• e do catião ABTS•+. O extrato ótimo foi igualmente avaliado quanto à capacidade de captação de espécies reativas de oxigénio (nomeadamente ácido hipocloroso (HOCl) e radical superóxido (O2 •- )), perfil fenólico e efeitos na viabilidade celular de queratinócitos e fibroblastos, com recurso ao ensaio colorimétrico de redução do brometo de 3-(4,5-dimetil-tiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio (MTT). O extrato ótimo de salicórnia apresentou um teor de polifenóis de 891,61 µg de equivalentes de ácido gálico por 100 mg de extrato seco (µg EAG/100 mg es). As capacidades antioxidante e antiradical, estando interligadas com o teor de polifenóis, não foram elevadas (FRAP = 13,56 µmol de equivalentes de FeSO4 por 100 mg de extrato seco (µmol ESF/100 mg es); ABTS = 1272,20 µg de equivalentes de ácido ascórbico por 100 mg de extrato seco (µg EAA/100 mg es); DPPH = 1106,10 µg de equivalentes de Trolox por 100 mg de extrato seco (µg ET/100 mg es)), no entanto o extrato ótimo apresentou um bom potencial de captação do HOCl (CMI50 = 26,61 µg/mL). No que toca ao potencial de captação do radical O2 •- a CMI50 calculada foi de 324,82 µg/mL. O perfil fenólico, avaliado por HPLC-MS, revelou a presença de uma grande quantidade de ácidos fenólicos (ácido 3,5-dicafeoilquínico; ácido 1,4-dicafeoilquínico e ácido 4- cafeoilquínico), bem como flavonoides (derivados de quercetina e isoramnetina). Por fim, não se verificou uma diminuição da viabilidade celular de fibroblastos e queratinócitos após exposição às diferentes concentrações de extrato avaliadas (0,1 – 1000 µg/mL). O presente trabalho permitiu assim reportar a composição do subproduto industrial da produção da salicórnia, abrindo novas perspetivas de futura valorização deste resíduo para diferentes indústrias, tais como a cosmética e a alimentar.